Este foi um ano atípico para todos, que nos colocou vários desafios em relação à forma como pensamos as estratégias de turismo, um dos sectores mais afectados pela pandemia. Durante estes meses de incerteza, qual foi a estratégia do Turismo de Portugal para combater o impacto do Covid-19 no nosso país?
O Turismo de Portugal, enquanto Autoridade Turística Nacional, mantém como preocupação primordial a resiliência do setor e a capacidade de recuperação do mesmo. Estamos empenhados em minorar os efeitos que esta situação criou para empresários e trabalhadores, simplificando a nossa relação com as empresas e tornando mais célere e ampla a comunicação.
O setor do turismo tem demonstrado, ao longo dos tempos, saber adaptar-se e dar resposta às alterações do mercado. Se é verdade que a crise provocada pela COVID-19 tem efeitos ímpares na atividade económica, não é menos verdade que se trata de uma situação temporária. E é com vista a recuperarmos deste contratempo que o Turismo de Portugal tem vindo a implementar uma série de iniciativas de apoio às empresas.
Foi neste contexto que criámos o selo Clean & Safe, que abrange toda a cadeia de valor do turismo, constituindo uma declaração voluntária do cumprimento de requisitos que muitas empresas incrementaram com protocolos específicos para as diferentes tipologias de serviços.
Portugal promove-se assim como destino seguro, do ponto de vista dos cuidados a observar para uma cuidada e eficaz manutenção das condições sanitárias que evitem a propagação do coronavírus, numa atuação concertada com o envolvimento de todas as empresas do setor e apelando à responsabilidade de todos. As empresas responderam a esta ação aderindo de forma massiva. Os mais de 22.000 selos disponibilizados evidenciam de modo muito significativo o compromisso das empresas portuguesas em acolher os turistas em segurança.
Na vertente financeira, criámos a Linha de Apoio à Tesouraria para Microempresas do Turismo com uma dotação de 60 milhões de euros que, entretanto, foi reforçada para 90 M€. Esta linha de apoio já recebeu 8.310candidaturas, tendo sido aprovados apoios a 7.130 empresas, no valor de 55,2 milhões de euros, o que contribuiu para a manutenção de cerca de 25 mil postos de trabalho.
As microempresas que solicitaram este apoio do Turismo de Portugal são de áreas tão diversas como Restauração e Bebidas, Alojamento Local, Agências de Viagens, Empreendimentos Turísticos, Animação Turística, Organização de Eventos e Rent-a-Car.
Entraram também em vigor as linhas de apoio ADAPTAR Microempresas, e ADAPTAR PME, com uma dotação de 50 milhões de euros cada, e as quais se destinam a apoiar as empresas na adaptação e investimento nos seus estabelecimentos, permitindo minorar o esforço relacionado com os custos acrescidos para o restabelecimento rápido das condições de funcionamento, garantindo o cumprimento das normas estabelecidas e das recomendações das autoridades competentes.
Relativamente à linha ADAPTAR Microempresas, o Turismo de Portugal recebeu 4.131 candidaturas que correspondem um investimento aprovado de 12,5 milhões de euros. Enquadradas na linha ADAPTAR PME, entraram 960 candidaturas com um investimento aprovado de 7,8M€.
No sentido de aliviar as empresas da pressão financeira decorrente do cumprimento das obrigações perante o Turismo de Portugal, no âmbito dos planos de reembolso dos financiamentos concedidos nos diversos regimes de apoio financiados por receitas próprias deste instituto, aplicámos uma moratória de 12 meses nas datas de vencimento das prestações de reembolso previstas nos planos de pagamento, ficando suspensa a cobrança dos reembolsos de capital e juros vencidos no corrente ano até 30 de setembro de 2020. Para todos os regimes de apoio geridos pelo Turismo de Portugal, incluindo os do QREN e do Portugal 2020 aos quais se aplicam medidas idênticas, foram abrangidas 1.823 empresas, representando o diferimento, por um ano, do reembolso de 35,7 milhões de euros.
Paralelamente, as Escolas do Turismo de Portugal desenvolveram um programa de consultoria online para empresas, que envolve 60 formadores disponíveis para ajudar a identificar medidas individualizadas para cada área de negócio (marketing, CRM, operacional, financeiro, etc.) e colaborar na sua implementação, contribuindo para minimizar o impacto dos planos de contingência COVID-19.
Continuamos a apostar nas Pessoas e no Talento que tem sido, e será, uma das prioridades estratégicas e de atuação do Turismo de Portugal. Não é por acaso que somos, há três anos consecutivos, distinguidos como o Melhor Destino Turístico do Mundo nos World Travel Awards. Temos um turismo reconhecido pela sua qualidade a todos os níveis, desde as infraestruturas, às acessibilidades e, fundamentalmente, pelos recursos humanos.
A capacitação do setor tem sido conseguida através de sessões de formação online, como as do programa BEST – Business Education for Smart Tourism, as sessões de formação sobre o selo Clean & Safe e o Programa de Formação Executiva Certificada Online, destinado a apoiar as empresas na identificação de medidas concretas em cada área de negócio, que respondam aos desafios decorrentes da pandemia. Garantimos, desta forma, a formação de 55.000 pessoas em mais de 500 sessões online.
De forma a contribuir para o conhecimento dos empresários e empreendedores do turismo, o Turismo de Portugal dinamizou uma série de webinars organizados pelo NEST – Centro de Inovação do Turismo, partilhando as suas análises acerca dos impactes da pandemia no setor e desafios que se apresentam. Até agora, foram realizados 60 webinars com mais de 10.000 participantes.
Aliás, desta parceria nasceram as Tourism Trade Talks – webinars semanais em que os coordenadores das Equipas de Turismo presentes nos mercados estratégicos para Portugal apresentam o cenário atual em cada mercado e quais as tendências que poderão ajudar no futuro.
Igualmente relevante foi manter Portugal no top of mind dos turistas ao longo destes meses. E fizemo-lo, de um modo amplo e internacionalmente apontado como exemplar, com o lançamento do vídeo #CantSkipHope e com o lançamento da campanha #ReadPortugal.
O Turismo de Portugal, através das suas Equipas de Turismo no exterior (EdT), lançou também um conjunto de ações de relações públicas junto dos órgãos de comunicação social dos principais mercados, visando manter a perceção de que Portugal é agora, como sempre, o melhor destino para férias. Desde abril foram mais de 300 os artigos publicados em meios internacionais emblemáticos, e diversas entrevistas concedidas (CNBC Live TV, Channel 4, Evening Standard e SkyNews, etc.) nos quais a imagem de Portugal tem angariado uma exposição muito positiva, com a campanha internacional sobre o selo Clean & Safe a encimar os destaques e a maximizar os níveis de motivação. E continuamos todos os dias a trabalhar para fazer ainda mais e melhor.
Para o futuro as apostas têm de ser estruturais e não conjunturais, ou seja, temos de continuar a apostar na formação, na diversificação (de produtos turísticos e de mercados), na I&D aplicada ao turismo, mantendo o objetivo central de termos turismo em todo o território durante todo o ano. Gerar confiança é crucial, para as Empresas e para os Turistas, que precisam de percecionar Portugal como um destino seguro e de qualidade.
Mantemos o nosso objetivo e o nosso compromisso de bem receber todos os turistas, assegurando todas as condições para que possam viajar e fruir o nosso país com confiança. Essa é a aposta e a nossa marca distintiva.
As entidades regionais têm tido um papel muito importante na promoção interna dos seus territórios e na promoção externa. Considera que o destino Portugal continua no mindset dos turistas estrangeiros?
Temos um turismo reconhecido pela sua qualidade e diversificação da oferta, a todos os níveis. E queremos continuar a ser percecionados dessa forma. Apesar deste contratempo, continuamos a ser um exemplo mundial a nível de oferta turística, proporcionando experiências únicas, gerando confiança àqueles que nos visitam.
Em 2019, as regiões que mais cresceram foram o Norte (+9,7% de dormidas), Alentejo (+7,6%) e Açores (+7,5%). Ou seja, os resultados demonstram que os benefícios do turismo se estenderam realmente a todo o país e que o setor contribuiu para a fixação de pessoas e para a criação de novas oportunidades de emprego nas várias regiões.
Na realidade atual, e mantendo os objetivos da Estratégia Turismo 2027, queremos continuar a valorizar os recursos com estratégias integradas que estruturem e promovam o que Portugal tem de melhor nas suas várias regiões. Temos os melhores recursos para, em conjunto com todos os agentes do setor, ultrapassarmos esta fase.
O país, como um todo, tem um enorme potencial se trabalhar em conjunto. A nossa estratégia, apesar dos óbvios e necessários ajustes função do contexto atual e das perspetivas futuras, mantém-se com metas claras e cujo sucesso depende da colaboração e envolvimento da sociedade e de todos os agentes do setor, públicos e privados. O nosso objetivo continua a ser o de liderar o turismo do futuro.
Considera que o sector do turismo foi obrigado a reinventar-se depois desta pandemia?
A retoma do setor do turismo a nível global é um dos maiores desafios económicos das últimas décadas. O ritmo será sempre marcado pela evolução da própria pandemia, das soluções que se desenvolvam e pela sua disseminação pelo mundo, mas sobretudo, pela recuperação da confiança das pessoas. É essencial que o medo seja vencido, que todos nos sintamos perfeitamente seguros nas deslocações turísticas e é essa vertente mais intangível que surge como o maior desafio.
Também sabemos que ambientes de disrupção são oportunidades para a criação de novos negócios, adaptados a novas realidades. Compete ao Turismo de Portugal, algo que estamos a fazer, construir um quadro de financiamento adaptado a estas duas realidades.
De acordo com as orientações globais da Organização Mundial do Turismo, definidas pelo Comité Global de Crises de Turismo, a recuperação responsável do setor, após a pandemia COVID-19, permitirá que este retome a atividade ainda mais forte e mais sustentável.
Apesar de desejarmos nunca ter vivido uma situação como esta, entendemos ser este o momento certo para reforçar o foco na sustentabilidade. Em Portugal, a recuperação do setor assente na sustentabilidade permitirá, não só a resiliência perante futuras crises, como o retomar da atividade turística sob o compromisso de fazer melhor e com maior segurança, dos pontos de vista económico, social e ambiental.
O nosso propósito continua a ser o de afirmar Portugal como um dos destinos mais competitivos, seguros e sustentáveis do mundo, tal como previsto na Estratégia Turismo 2027. Acredito que com o empenho de todo o setor, públicos e privados, retomaremos a rota de crescimento e voltaremos aos resultados do passado.
As empresas do sector do turismo atravessam uma situação financeira muito difícil e os apoios poderão não ser suficientes. Com o risco de muitas empresas fecharem portas, considera que a qualidade do nosso “produto” turístico vai continuará a corresponder às expectativas dos próximos turistas?
O turismo é um setor resiliente e dinâmico, que sabe adaptar-se e dar resposta às alterações do mercado. Tem havido a preocupação de dar resposta às dificuldades e necessidades das empresas com o objetivo de manter o capital criado e a importância deste setor na economia nacional.
O nosso destino continua autêntico, diversificado, atrativo, inclusivo e seguro. Mantemos o propósito e o compromisso de receber bem, respeitar as diferenças e hoje, mais do que nunca, garantir a todos os que nos visitam que podem viajar pelo país, seguros e com confiança.
Os nossos atributos, que fazem de Portugal o Melhor Destino do Mundo, permanecem inalterados. Continuamos a ser um exemplo mundial a nível de oferta turística, proporcionando experiências únicas, de excelência, a todos os que nos visitam.
A pandemia não tem data para terminar e poderá ser uma realidade inclusive em 2021. O que pode fazer Portugal para salvar o Turismo em 2021?
Continua a ser um propósito de todo o setor afirmar Portugal como destino sustentável, inovador e competitivo, com base num território coeso e onde trabalho e talento são valorizados. Queremos que a indústria turística nacional esteja na linha da frente das preocupações com o desenvolvimento sustentável e na implementação de novos procedimentos nos modelos de negócio e nas operações, com vista a uma recuperação ainda mais forte da atividade.
Do nosso lado, Turismo de Portugal, assumimos o nosso papel e reforçamos o compromisso com a consolidação e sustentabilidade das empresas do setor, com renovadas apostas no acesso ao investimento, à capacitação, aos mercados e ao conhecimento.
Quando lançámos esta estratégia a dez anos (2017-2027), decidimos que a sustentabilidade teria de ser o foco, o centro da estratégia. Tivemos agora este contratempo, mas nos quatro últimos anos, conseguimos aumentar as receitas do turismo em mais de 60%. E o objetivo é que, em 2027, este valor atinja os 26 mil milhões de euros.
Se o passado nos mostra este crescimento, acredito que temos capacidade, com o empenho de todo o setor, de fazer ainda mais e melhor para retomarmos a rota do crescimento, contribuindo efetivamente para recuperação económica do país.
Continuamos focados em crescer em número de hóspedes e dormidas, ao longo de todo o ano e em todo o território. Queremos 90% das pessoas de grandes regiões turísticas ou de grandes centros urbanos a reconhecer o valor do turismo e satisfeitas com a atividade turística.
Uma outra meta tem a ver com a redução da sazonalidade. Atualmente já temos o índice de sazonalidade mais baixo de todos os países do Mediterrâneo. É o mais baixo de sempre. Estamos com 36% de sazonalidade por ano, o que é absolutamente extraordinário. Mas porquê reduzir a sazonalidade? Porque é o maior inimigo do emprego: leva a contratos de trabalho precários, a flutuação de pessoas, portanto, quanto mais combatermos a sazonalidade e mais estabilizarmos a ocupação, menos questões sociais temos. É um indicador social importante.
Igualmente relevante é a qualificação dos recursos humanos. Em 2017, tínhamos 60% das pessoas que trabalhavam no sector, quase 300 mil pessoas, com o ensino básico. Hoje estamos abaixo, nos 53%, mas a ideia é inverter essa pirâmide e fazer com que 60%, no mínimo, tenha ensino secundário, técnico-profissional ou superior. Portanto, há uma aposta muito grande do nosso lado em estimular que as pessoas tenham formação.
Na parte ambiental, 90% das empresas que trabalham no setor, seja em rent-a-car, hotelaria, alojamento local, animação turística, agentes de viagens ou operadores turísticos, nove em cada dez tem que ter medidas de gestão eficiente de água, luz e resíduos. Estamos a trabalhar em várias áreas, inclusive de financiamento, para que as empresas se adaptem até 2027. Queremos ser um país cujo setor turístico se preocupa com o ambiente.
O Turismo de Portugal continua a focar a sua atenção na resposta às necessidades das empresas e seus colaboradores, turistas e cidadãos, com o desenvolvimento de diversas soluções e apoios a todo o setor.
Sobre a BTL 2021, a montra do turismo em Portugal, este ano com uma edição híbrida – presencial e digital. Quais são as vossas expectativas para o evento?
Portugal é um destino seguro e está preparado para receber turistas de todo o mundo. A BTL é a oportunidade ideal para reforçarmos esta ideia.
A nossa expectativa é que esta seja uma plataforma de promoção que se traduza em negócio e na dinamização do setor mostrando precisamente a resiliência e a capacidade inovadora de muita da oferta turística nacional.
O que pode a BTL 2021 acrescentar à retoma/crescimento do turismo para o próximo ano?
A BTL é uma montra do que o nosso país tem de melhor: a oferta de excelência, a experiência diferenciadora, a inovação que se está a fazer que, refira-se, de ano para ano conquista maior relevância neste evento.
Esta é a oportunidade para fazer negócio, para relembrar aos buyers porque somos um dos destinos mais competitivos do Mundo, para apostar na venda direta. E é também a oportunidade de aproximar os profissionais do setor, estudantes, empregadores, e todos aqueles que se interessam pelo turismo, para voltar a fazer desta a principal atividade económica do país. Será certamente uma oportunidade de reencontro num ambiente que, todos esperamos, seja de maior clareza relativamente ao futuro.
A versão híbrida, na vossa opinião, será um benefício para o evento e para os expositores e visitantes?
É a melhor versão possível neste contexto desafiante. As tecnologias que atualmente temos disponíveis permitem-nos manter as características deste evento, sem desvirtuar o seu propósito. Estamos todos mais preparados e Portugal e as suas empresas têm demonstrado, também aqui, uma capacidade única de adaptação e positivismo.
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